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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Adeus, Jobim, não deixarás saudades...

Heil Jobim!!!

Não pude conter a satisfação com a demissão deste ex-ministro da defesa que, a despeito de civil, adorava posar fardado, como na foto acima. Nelson Jobim foi um homem singular da história política brasileira. Digo foi por que está sepultado politicamente. Aliás, sem direito a um funeral com as famosas honras militares que decerto apreciaria demasiadamente, já que não apareceu sequer uma fração do seu PMDB a empunhar-lhe uma velinha à beira do esquife.

Dono de um ego hipertrofiado, Jobim, acabava por denunciar suas mais torpes vilezas a pretexto de demonstrar como era arguto, como era "esperto". Assim gabava-se, por exemplo, de ter, como deputado federal, incluído normas no texto final da nossa Constituição sem que passasem pelos devidos trâmites da Assembléia Nacional Constituinte e assim fazer prevalecer matreiramente posições suas, sem a devida avaliação dos colegas. Tinha orgulho desta façanha.

Fernando Henrique Cardoso fez deste homem Ministro da Justiça e mais tarde Ministro do Supremo Tribunal Federal, guardião, portanto, da mesma contituição que confessadamente havia adulterado.

Lula o utilizou como instrumento de contenção das críticas da direita ao chamado "caos aéreo". Afinal, com Jobim na defesa, os conservadores não utilizariam a mídia para detratar um dos seus. Sabido mesmo é o matuto de Caetés.

Mas a roda gigante da política girou e o Jobim não era mais necessário. Para piorar a própria situação, o ministro demitido foi abrir a boca para falar mal das colegas Ideli Salvatti e Gleisi Hoffmann. Mais do que com a elegância, faltou com a educação. Disse ainda que votara em Serra. Além de faltar com a fidelidade ao governo que integrava, faltou aí com a mais elementar das coerências políticas.

Dilma não nos faltou. Livrou o Brasil de um estorvo. De Jobim, ficamos apenas com a obra do Tom. Quanto ao outro, que descanse em paz.

Olhos nos olhos deste jovem


Olhem os olhos deste homem e respondam de quem se trata. Negro, de origem pobre, acaba de ficar famoso no mundo inteiro. Não é um esportista, nem um cantor de rap. Estava num táxi e foi morto a tiros após ser abordado por uma viatura policial em uma operação atabalhoada na qual foi confundido com um bandido. Não, não aconteceu num país subdesenvolvido da América Latina, onde séculos de brutalidade repressora das classes dominantes se cristalizaram viciosamente nos organismos policias, de maneira a ter se tornado tragicamente "aceitável" a execução de um "bandido". Aconteceu na terra dos Windsor e sua rainha. Seu nome era Mark Duggan, tinha 29 anos e três filhos e morava em Tottenham, ao norte de Londres. A mesma Scoltand Yard, outrora prestigiosa, que assassinou o brasileiro Jean Charles por confundi-lo com um terrorista no metrô de Londres, foi responsável por mais este crime sem nome.

Esta morte deu origem aos protestos que sacodem a Inglaterra e que a mídia faz questão de resumir a "atos de vandalismo generalizado", menosprezando as suas causas políticas e sociais. Há muito tempo o negro e o imigrante - sobretudo o não cristão - tem sido apresentado aos europeus "puros de origem" como ameaça aos seus empregos, tanto pelos partidos da direita conservadora, quanto pelos meios de comunicação de massa. Na última década, após os ataques de 11 de setembro de 2001 nos EUA, o fenômeno acentuou-se, ganhou força e passou a enfatizar o elemento religioso mulçumano, amealhando cada vez mais a simpatia do eleitorado da classe média assustada e empobrecida pela recessão dos últimos anos.



Londres em Chamas

Nunca é demais lembrar, no entanto, que estes argumentos foram os mesmos levantados para justificar a espoliação e a expulsão de judeus de diversos países europeus desde o século XII (aliás, a pioneira foi a mesma Inglaterra), culminando com o genocídio deste povo durante a segunda grande guerra.

Ironicamente os representantes do povo judeu hoje estão tristemente unidos aos norte-americanos e europeus na defesa agressiva da "civilização ocidental judaico-cristã" contra a "barbárie islâmica", assim como dos "direitos dos verdadeiros cidadãos" destas nações ao trabalho e à prosperidade em detrimento da invasão da "imundície imigrante". Esquecem que jovens como Mark Duggan tem o direito de criar os seus filhos e andar de táxi sem ser metralhados em qualquer lugar do mundo, seja no Chile, no Egito, na Síria, na Tunísia ou na Inglaterra e que nestes ou em qualquer outra parte do globo - de maneira mais ou menos organizada politicamente - sempre há multidões sedentas de justiça e prontas para se levantar.