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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Dia dos Fiéis Defuntos na Bolívia

Certa feita assisti às manifestações populares por ocasião do "día de los muertos" na Bolívia. Ao contrário do Brasil, onde uma simples visita ao túmulo familiar - e ocasionalmente, a participação numa missa - compõe o quadro do feriado antes da cerveja e do cochilo à tarde, lá os rituais são muito mais elaborados.

As mulheres se cobrem de vestes negras e longas como suas tranças ou seus imensos rosários. Os homens, quando não envergam paletó, fecham o colarinho e abotoam suas camisas até o punho. Mais que tudo, seus semblantes parecem fechados como suas almas, numa introspecção severa, mas serena.

As visitas aos campos santos se dão em procissão e os sacerdotes repetem ladainhas em castelhano enquanto seus auxiliares manuseiam matracas como as de antigamente no sertão nordestino. O povo carrega fotos de seus mortos e, apesar das feições andinas de seus protagonistas, são tantos os símbolos católicos que parecemos assistir a manifestações ibéricas ou itálicas de outros séculos. Para mim, foi como uma viagem de encontro com antepassados e seus esquecidos costumes, justamente no dia dedicado a memória dos que já passsaram.

Às celebações católicas e européias, no entanto, os filhos dos incas somam os ritos da winiapacha, na qual oferendas de todos os tipos aguardam a descida dos espíritos ancestrais, desde pães especiais até folhas de coca. E os túmulos, tal qual terreiros de candomblé, são ornados com as ofertas, enquanto os homens e mulheres que este estrangeiro pensava irremediavelmente tristes seguem alegres até as suas casas, para esperar os sinais da presença de seus mortos, cuja visita celebrarão.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Dia de Todos os Santos

Multidão dos santos, rogai por nós!




Desde o século VII, a Igreja Católica Apostólica Romana, celebra a solenidade de todos os santos, conhecidos ou não, para nos lembrar, enquanto comunidade de fiéis que constituem seu corpo, que somos todos chamados desde o ventre materno à mais alta das vocações. Somos todos chamados à Santidade. Sendo pecadores por força da nossa natureza humana, é imenso o desafio, o apelo imperativo, o convite vocacional do Cristo: "Sede santos, como vosso pai celeste é santo!".

E se imensas são nossas misérias, maior é vocação à superá-las que emana deste carisma que o Salvador do Mundo nos lega: "sede santos". E santos não apenas numa santidade qualquer, mas santos numa santidade equiparável àquela que é própria do Autor do Verbo. É à imitação de Cristo, ao reflexo de Deus, a que somos chamados!

Mas se toda imitação é imperfeita e todo reflexo é distorcido, se nos marca indelevelmente o pecado, como ser santo e perfeito como o próprio Deus, Autor da Perfeição? Por outro lado, nos pediria Jesus o impossível?

Dizia dom Hélder: "queria ser humilde poça que refletisse os céus". O dom doou sua vida à luta em favor de seus irmãos mais desprezados. E queria, até o fim, ser a humilde poça. Em verdade, creio que o reflexo da poça não é de fato distorcido. Esta poça é santa, perfeita e profunda como o alto dos céus. E é a vocação à qual nos chama Jesus Cristo. Tentemos, pois, ser poças.