Certa feita assisti às manifestações populares por ocasião do "día de los muertos" na Bolívia. Ao contrário do Brasil, onde uma simples visita ao túmulo familiar - e ocasionalmente, a participação numa missa - compõe o quadro do feriado antes da cerveja e do cochilo à tarde, lá os rituais são muito mais elaborados.
As mulheres se cobrem de vestes negras e longas como suas tranças ou seus imensos rosários. Os homens, quando não envergam paletó, fecham o colarinho e abotoam suas camisas até o punho. Mais que tudo, seus semblantes parecem fechados como suas almas, numa introspecção severa, mas serena.
As visitas aos campos santos se dão em procissão e os sacerdotes repetem ladainhas em castelhano enquanto seus auxiliares manuseiam matracas como as de antigamente no sertão nordestino. O povo carrega fotos de seus mortos e, apesar das feições andinas de seus protagonistas, são tantos os símbolos católicos que parecemos assistir a manifestações ibéricas ou itálicas de outros séculos. Para mim, foi como uma viagem de encontro com antepassados e seus esquecidos costumes, justamente no dia dedicado a memória dos que já passsaram.
Às celebações católicas e européias, no entanto, os filhos dos incas somam os ritos da winiapacha, na qual oferendas de todos os tipos aguardam a descida dos espíritos ancestrais, desde pães especiais até folhas de coca. E os túmulos, tal qual terreiros de candomblé, são ornados com as ofertas, enquanto os homens e mulheres que este estrangeiro pensava irremediavelmente tristes seguem alegres até as suas casas, para esperar os sinais da presença de seus mortos, cuja visita celebrarão.
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
terça-feira, 1 de novembro de 2011
Dia de Todos os Santos
Multidão dos santos, rogai por nós! |
Desde o século VII, a Igreja Católica Apostólica Romana, celebra a solenidade de todos os santos, conhecidos ou não, para nos lembrar, enquanto comunidade de fiéis que constituem seu corpo, que somos todos chamados desde o ventre materno à mais alta das vocações. Somos todos chamados à Santidade. Sendo pecadores por força da nossa natureza humana, é imenso o desafio, o apelo imperativo, o convite vocacional do Cristo: "Sede santos, como vosso pai celeste é santo!".
E se imensas são nossas misérias, maior é vocação à superá-las que emana deste carisma que o Salvador do Mundo nos lega: "sede santos". E santos não apenas numa santidade qualquer, mas santos numa santidade equiparável àquela que é própria do Autor do Verbo. É à imitação de Cristo, ao reflexo de Deus, a que somos chamados!
Mas se toda imitação é imperfeita e todo reflexo é distorcido, se nos marca indelevelmente o pecado, como ser santo e perfeito como o próprio Deus, Autor da Perfeição? Por outro lado, nos pediria Jesus o impossível?
Dizia dom Hélder: "queria ser humilde poça que refletisse os céus". O dom doou sua vida à luta em favor de seus irmãos mais desprezados. E queria, até o fim, ser a humilde poça. Em verdade, creio que o reflexo da poça não é de fato distorcido. Esta poça é santa, perfeita e profunda como o alto dos céus. E é a vocação à qual nos chama Jesus Cristo. Tentemos, pois, ser poças.
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