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segunda-feira, 25 de julho de 2011

O dia no qual conheci Lula

Há certos dias da vida que o sujeito nunca esquece. O dia era 17 de março de 1999. Cursando o terceiro período da Faculdade de Direito do Recife (UFPE), eu ainda contava apenas com meus dezoito anos. Já militando há mais de um ano no movimento estudantil, insistia com um grupo de colegas para que aproximássemos aquela nossa lendária casa dos demais movimentos sociais. Fernando Henrique acabara de se reeleger no primeiro turno. O ideário neoliberal do estado mínimo estava a todo vapor e o desmonte do Estado Brasileiro, com as privatizações da CSN, da Vale e a tentativa de vender a Petrobrás, contava com o apoio maciço e explícito da mídia nacional. Nossas universidades públicas - e quem estudou numa naquela época o sabe bem - também estavam em risco. Tínhamos que travar o debate político nos nossos campus e nos aproximar dos movimentos organizados na cidade e no campo. Na noite daquele 17 de março, os movimentos sociais fariam um manifestação na praça do Carmo. Lula participaria. Acontece que, politicamente, Lula estava morto. Pelo menos era o que diziam os profetas de plantão, afinal, vinha da terceira derrota consecutiva na corrida ao Palácio do Planalto.

Para mim, era a possibilidade de encontrar com um herói da minha infância. Fizera campanha em 1989 no seu embate contra Collor, era um dos poucos do meu colégio a fazer questão de entregar os adesivos daquele barbudo do povo de vermelho que lutava pelos pobres. Cheguei cedo e, apesar da garoa, esperei grande o líder bem perto do pequenino trio elétrico, desses que hoje chamamos de "caixa de fósforos". Quando todas as lideranças estavam lá em cima, cochicharam no meu ouvido: "o representante da UNE quer que suba uma liderança da Faculdade de Direito". Eu gelei. Como os colegas escolheram, subiria e encontraria pessoalmente o Lula. Cada degrau da subida elevava ainda mais a minha ansiedade. Aboletei-me num canto do trio e fiquei olhando para aquele vencedor de tantos flagelos que ainda chegaria presidência da república. Seu carisma magnetizava a todos.

No discurso, respondeu a provocação que uma jornalista fizera minutos antes: "Uma jornalista do Jornal O Globo me perguntou agora a pouco se não era muito pouca gente neste ato aqui na Praça do Carmo no Recife. Veja, são três mil pessoas numa quarta-feira à noite, chovendo, tem rodada do campeonato brasileiro, eu acabei de perder a terceira eleição pra presidente não tem mais de seis meses, é a última semana da novela das oito e a danada da jornalista ainda vem me perguntar se três mil pessoas aqui não é pouco? É não minha filha, é a vangurda dos pernambucanos e pernambucanas que vão promover as mudanças que o Brasil precisa! É só o começo da luta daqueles que não se cansam para construir um país mais justo para milhões de brasileiros que esperam ansiosos por um futuro sem exclusão!". A multidão delirou!

No final do ato, a então deputada estadual Luciana Santos, que ainda sonhava com a prefeitura de Olinda, chamou o futuro presidente: "Lula, conheça aqui nossa liderança da Faculdade de Direito, esse é Augusto Simões, o Galego." Com expressão de espanto, Lula olhou de cima a baixo àquele jovem com cara de menino e disse: "Tão cedo na luta, companheiro...". Nunca esquecerei esta frase. Foi a maior honraria que recebi na vida. Espero poder repeti-la aos meus netos.

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